Telemedicina: escolhas que determinarão o novo normal
As novas tecnologias e a internet impactaram fortemente a nossa maneira de viver. Em tempos de pandemia, essas ferramentas aproximaram as nossas relações mais do que nunca, seja no âmbito pessoal ou no profissional.
Vários segmentos de mercado já foram e vêm sendo impactados por todo o contexto exponencial e de digitalização. Estamos na era das plataformas que podem ser de delivery, serviços, relacionamentos, vendas, comunicação, educação e outras.
Já existe um movimento de “plataformização” na área de saúde há algum tempo, no entanto os impactos do novo coronavírus aceleraram esse processo. Estamos presenciando uma das maiores evoluções da Medicina a nível de acessibilidade, o que consequentemente representa uma das maiores evoluções desse mercado nos últimos tempos.
E dentro da Saúde Digital o maior sinal de que estamos presenciando a chegada do “Uber” e do “iFood” nesse setor da saúde é a chegada da Telemedicina.
Um marco na saúde
A Telemedicina pode ser um marco para essa evolução dos cuidados da saúde. O progresso dessa tecnologia nas últimas décadas vinha sendo lento no Brasil, apesar de ser visto por muitos como uma solução aos desafios contemporâneos. A pandemia acelerou a aprovação da prestação de serviços por Telemedicina por meio da Portaria nº 467, de 20 de março de 2020, e a partir daí o tema saúde digital mudou de status.
E essa mudança de status parece ser irreversível. Esperar acabar a pandemia para retomar velhos modelos e práticas de cuidados de saúde seria perda de tempo, e possivelmente de dinheiro. Dificilmente, um paciente vai enfrentar um transporte cheio e demorado para uma consulta presencial de cinco minutos. Os hábitos de ontem não são mais capazes de fazer frente aos desafios de hoje. O que virá é incerto, mas algumas mudanças já fazem parte do presente, e a Telemedicina é uma delas.
Medicina: um novo alcance com a tecnologia
É importante pautar novas práticas de Telemedicina de uma forma ética e responsável. Isso porque como a atividade é relativamente recente no Brasil, a Telemedicina ainda enfrenta alguns desafios de ordem técnica, legal, ética, regulatória, cultural, entre outros.
Fora do Brasil e principalmente em países considerados desenvolvidos, a maioria dos serviços de Telemedicina que incide sobre diagnóstico e manejo clínico já é rotineiramente oferecida.
O Brasil oferece oportunidades ímpares para o desenvolvimento e implementação da Telemedicina. Com dimensões continentais e uma população de mais de 200 milhões de habitantes, há milhares de locais isolados, de difícil acesso e com absoluta escassez de serviços de saúde; a distribuição de profissionais e recursos médicos também é desigual. Por outrolado, o país possui um sistema de prestação de cuidados à saúde universal, integral e equânime, e apoiado por uma constituição nacional que desde 1988 colocou a saúde como uma garantia constitucional.
Nesse cenário, a utilização da Telemedicina descortina vantagens não só na área da saúde, como também nas áreas econômica e social, criando um ambiente favorável para inovações, o que pode aumentar a oferta e demanda por serviços e produtos, consequentemente impulsionando o desenvolvimento de empresas. Serviços de Telemedicina não são somente para pessoas doentes ou carentes (de infraestrutura e de renda), mas também podem ser utilizados por pessoas que desejam monitorar dados de saúde, sem necessariamente ter um diagnóstico de doença em particular. Esse é também um dos mercados promissores para a Telemedicina.
Embora a prática da Telemedicina tenha chegado para preencher uma lacuna histórica, a pandemia acelerou sua implementação, ainda que inicialmente em caráter excepcional e temporário. De acordo com o ofício nº 1756/2020 encaminhado ao Ministério da Saúde, a Telemedicina poderá ser exercida apenas nos seguintes moldes:
Telemonitoramento: possibilita que sob supervisão ou orientação médicas, sejam monitorados à distância parâmetros de saúde e/ou doença;
Teleorientação: permite que médicos realizem à distância a orientação e o encaminhamento de pacientes em isolamento;
Teleinterconsulta: permite a troca de informações e opiniões exclusivamente entre médicos, para auxílio diagnóstico ou terapêutico.
O atendimento virtual em escala pode liberar o tempo presencial na prática clínica para ser usado pelos pacientes que realmente se beneficiam dele. Pode permitir que médicos e pacientes se comuniquem 24 horas por dia, todos os dias da semana, usando smartphones ou computadores habilitados para webcam. Os sintomas respiratórios – que podem ser sinais precoces da COVID-19 – estão entre as condições mais comumente avaliadas a partir dessa abordagem.
Telemedicina é somente a ponta do iceberg de toda a transformação digital que a saúde está passando. Se a jornada do paciente importa cada vez mais, é fundamental revisitar as jornadas no setor da saúde que ainda não são contempladas.
Quais seriam as escolhas que estamos fazendo no presente e que determinarão o futuro da saúde?
Quais são os aprendizados que irão ficar quando essa pandemia chegar ao fim?
Como ampliar e fortalecer esse novo impulso na medicina? A classe médica está pronta para esse potencial ruptura cultural que já está em andamento?
Como ampliar e fortalecer esse novo impulso na medicina?
Acompanhe nosso conteúdo sobre Telemedicina. Conte-nos sobre o seu modelo de atendimento e o que já utiliza em termos de atendimento à distância utilizando a tecnologia. Envie suas dúvidas, críticas e sugestões. Elas são bem-vindas. Vamos percorrer juntos uma jornada rumo ao novo.
(Box. Conceitos)
Telemedicina, em sentido amplo, pode ser definida como o uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC´s) na saúde, viabilizando a oferta de serviços ligados aos cuidados com a saúde (ampliação da atenção e da cobertura), especialmente nos casos em que a distância é um fator crítico.
A Telemedicina é o exercício da medicina, mediado por tecnologias para fins de assistência, educação, pesquisa, prevenção de doenças, lesões e promoção da saúde. Ela pode ser síncrona (quando realizada em tempo real) ou assíncrona (atendimento off-line), indicando uma série de possibilidades de atendimento a distância, como a teleconsulta, o telediagnóstico, a telecirurgia, a teletriagem, a teleorientação, a teleconsultoria e o telemonitoramento.
Teleconsulta: consulta médica remota mediada por tecnologias, com médico e paciente localizados em diferentes espaços geográficos. A teleconsulta subentende, como premissa obrigatória, o prévio estabelecimento de uma relação presencial entre médico e paciente. Nos atendimentos por longo tempo ou de doenças crônicas, é recomendada consulta presencial em intervalos não superiores a 120 dias.
Prescrição digital
A prescrição médica digital é um documento similar a já usada no Brasil. A diferença é que ela usa a assinatura digital do médico por meio do uso de um certificado digital no padrão da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICP-Brasil Isso significa que, para um médico prescrever medicamentos digitalmente, antes é necessário criar sua assinatura digital.
Telessaúde ou Telemedicina?
Telemedicina e telessaúde têm sido utilizados, muitas vezes, como sinônimos, mas essas palavras têm significados distintos. Em relação à telessaúde, diz a história que a sua primeira participação foi no início do século XX, quando a comunicação via rádio foi utilizada para oferecer serviços médicos na Antártida. Já a Telemedicina foi utilizada pela primeira vez em 1970, nos Estados Unidos, com o objetivo de melhorar o atendimento dos médicos nas áreas rurais. A American Telemedicine Association (ATA) define a Telemedicina como ferramenta tecnológica com o objetivo de oferecer um atendimento melhor aos doentes que necessitam de exames com laudos a distância. Já a telessaúde se refere a toda e qualquer espécie de utilização de serviços de informação em relação à saúde a partir de instrumentos de comunicação tecnológica.
Telessaúde faz referência a um conceito mais amplo, englobando diferentes serviços remotos de assistência, diagnóstico, educação e pesquisa em saúde.
A Telemedicina é uma categoria dentro da telessaúde, que, por sua vez, proporciona especializações e serviços diretos, voltados para os médicos e enfermeiros.
Dr. Leonardo Aguiar, Lilia Porto, Raphael Aguiar & time Saúde na Era Pos-Digital